23.julho.2018 | por: Administrador
DesenvolvimentoÉTICA: Ou você tem, ou você não tem!
Vivemos hoje em um contexto de agravamento da crise econômica e de demanda permanente por ética. As operações realizadas pela Polícia Federal e pelo Ministério Público, trouxeram, uma vez mais, a necessidade de implementação de um código de conduta e de processos internos como uma obrigatoriedade, e não mais uma simples opção às empresas.
O brasileiro, de um modo geral, adora viver e fazer uso da “ética” por conveniência, ou, o que dá no mesmo, da ética por amizade. Foi possível, por diversas vezes, constatar mobilizações nas ruas, panelaços nos grandes centros e discursos políticos inflamados. Todos eles cobrando postura ética de gestores (públicos e corporativos) e governantes.
No entanto, a sociedade que se horroriza a cada nova notícia de corrupção, envolvendo agentes públicos; e cobra desses uma postura ética, é a mesma que: costuma atravessar o sinal vermelho com seu veículo; utiliza-se de subterfúgios para não honrar compromissos assumidos; compra o CD/DVD ou roupas sem o devido pagamento do imposto exigido; e assim vai. Isso, pode ser chamado de “FIM”. É um dos nossos maiores males e atrasos. Revela um comportamento totalmente antiético; um paradoxo em relação ao discurso frequente que, inflamado, busca convencer a todos; mas, parece, que não a si mesmo.
Traduzindo, seria:
Se me agrada, ou é conveniente no momento, eu aplico a ética. Já se não for do meu agrado, ou se envolver meu amigo eu sou “permissivo”. O que é ser ético? A ética pressupõe a conveniência no julgamento? Está ligada ao “politicamente correto”? (expressão que costuma me trazer uma sensação de profundo asco). Talvez, até mesmo você pode, enquanto lê, se opor a essas ideias, fechando-se a elas, o que por si só, já marca uma singela feição de intolerância.
Cortella (2014), em seu livro Ética e vergonha na cara, recorda um fato durante uma corrida de cross-country, em 2012, na Espanha, quando o queniano Abel Mutai, estava a pouca distância da linha de chegada e, confuso com a sinalização, parou para posar para fotos pensando que já havia cumprido a prova. Logo atrás vinha outro corredor, o espanhol Iván Fernández Anaya. E o que fez ele? Começou a gritar para que o queniano ficasse atento, mas este não entendia que não havia ainda cruzado a linha de chegada. O espanhol, então, o empurrou em direção à vitória.
Um jornalista, aproximando o microfone do corredor espanhol, perguntou: “Por que o senhor fez isso?”. O espanhol replicou: “Isso o quê?” Ele não havia entendido a pergunta. O jornalista insistiu: “Mas por que o senhor fez isso? Por que o senhor deixou o queniano ganhar?”. “Eu não o deixei ganhar. Ele ia ganhar”. O jornalista continuou: “Mas o senhor podia ter ganho! Estava na regra, ele não notou…”. “Mas qual seria o mérito da minha vitória, qual seria a honra do meu título se eu deixasse que ele perdesse?”
E é essa a pergunta que não temos feito a nós mesmos. Qual seria a honra em: atravessar o sinal vermelho, estacionar indevidamente em vaga destinada a PNE, comprar materiais/equipamentos que sabemos serem contrabandeados somente porque seu valor é menor. Qual seria a honra?
Mas a nossa incoerência tão pacificamente aceita em nosso modo de vida, não parece ser motivo algum de angústia. É como uma justificativa, decorrente das tomadas de decisão incoerente de nossa classe política, sem nenhuma autoridade moral para cobrar algo mais ético da sociedade, uma vez serem eles os primeiros a fugir com a ética. Interessante como esse é um problema antigo em nossa história. Rui Barbosa já sofria com esse mesmo problema: “De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto”.
A questão é: quando isso vai mudar? Você acha que é possível? Um amigo meu me mandou uma mensagem, que aprofundou a reflexão “naquilo que podemos fazer hoje”. Aproveito e compartilho: “O bom é inimigo do ótimo! Esta é uma das razões para explicar por que tão poucas coisas que se tornam excelentes. Não temos ótimas escolas, principalmente porque temos boas escolas. Na verdade, poucas pessoas levam uma vida ótima, em grande parte porque é tão fácil construir uma vida boa”.
Devemos fazer nossa parte a partir de agora. Não deixar se esmorecer pelas barreiras que podem e vão aparecer. Não se aliar ao mais fácil, somente pela “vergonha de ser honesto”. Não fugir ao primeiro ao contato do momento de arrojo impulsivo daqueles que não querem perder suas mordomias. Lutar o “bom combate”, espalhar a semente da virtude, dos bons costumes; daí o nome “bom” e “costumes”. Tudo que vem do “bem” torna-se positivo; e quando amealha-se na sociedade de forma natural, torna-se um costume. Basta somente começar. O que está esperando?